O Design Biofílico é uma forma inovadora de criar ambientes naturais que melhoram nossa saúde e bem-estar. A palavra “biofílico” vem de “biofilia”, que pode ser definida como o amor à vida ou aos sistemas vivos.
Nesse sentido, em um mundo urbano de tecnologia e arquitetura industrial, essa conexão fundamental pode, às vezes, parecer quase perdida. Portanto, o Design Biofílico chega para resgatar os ambientes naturais e trazê-los aos espaços construídos pelo homem.
Área externa com porcelanato que reproduz tons naturais de pedra
O Design Biofílico procura conectar nossa necessidade inerente de afiliar a natureza ao ambiente moderno construído. Uma extensão da teoria da biofilia, o Design Biofílico reconhece que nossa espécie evoluiu na maior parte de sua história em resposta adaptativa ao mundo natural e não às forças humanas criadas ou artificiais.
Cafeteria com móveis em madeira e jardim vertical.
O ser humano é biologicamente codificado para se associar aos recursos e aos processos naturais. Essa necessidade é fundamental para a saúde física e mental, a aptidão e o bem-estar das pessoas.
Como o “habitat natural”, atualmente, é, em grande parte, o ambiente construído — ou seja, onde passamos a maior parte do nosso tempo —, o Design Biofílico busca satisfazer nossa necessidade inata de nos associar à natureza.
Assim, o objetivo fundamental do Design Biofílico é criar um bom habitat para as pessoas que habitam estruturas, paisagens e comunidades modernas. A consecução desse objetivo depende do cumprimento de determinadas condições, como mostraremos a seguir.
Além disso, como a biofilia é essencialmente sobre tendências humanas evoluídas, o Design Biofílico foca naqueles aspectos da natureza que, ao longo do tempo evolutivo, contribuíram para a nossa saúde e bem-estar.
Os benefícios do Design Biofílico: mais produtividade e bem-estar
Ao incluir conscientemente a natureza no interior ou no projeto arquitetônico, estamos nos reconectando inconscientemente a ela. No entanto, um ambiente desprovido de natureza pode ter um efeito negativo na saúde, sobretudo, na produtividade e bem-estar.
A OMS já reconheceu o estresse no trabalho como uma das maiores causas de depressão. Por isso, a aplicação do Design Biofílico é muito importante não só nos espaços pessoais, mas, particularmente, em áreas produtivas, como escritórios e outros ambientes de trabalho.
Praça da Apple em Macau forma um oásis de tranquilidade.
Problemas de saúde e falta de bem-estar também podem resultar em baixo desempenho e produtividade, perda de tempo de trabalho e aumento de custos.
Por isso, incorporar elementos da natureza diretos ou indiretos no ambiente construído é fundamental. Isso ajuda a reduzir os níveis de estresse, a pressão arterial e as frequências cardíacas, ao mesmo tempo que aumenta o bem-estar geral.
Existem várias táticas que os arquitetos podem usar para incorporar os princípios de Design Biofílico. De acordo com o livro 14 Patternes of Biophilic Design (14 Padrões do Design Biofílico), os padrões de Design Biofílico se dividem em três grupos:
Padrões da natureza no espaço;
Padrões de analogias naturais;
Padrões da natureza que proporciona o espaço.
Incorporação de tons de madeira no ambiente de trabalho.
Acesso e vistas da natureza: alguns edifícios estão situados para oferecer vistas deslumbrantes do oceano ou uma abundância de árvores em uma paisagem arrebatadora, a partir das janelas. Entretanto, outros não. Ao criar projetos para locais urbanos e mais industriais, os arquitetos podem optar por projetar espaços de pátio com árvores, por exemplo, para fornecer aos ocupantes vistas agradáveis e acesso à natureza;
Melhor qualidade do ar e ventilação: as pessoas que passam a maior parte do dia dentro de um escritório ou outro tipo de prédio, geralmente, fazem uma pausa para “tomar ar fresco”. Os arquitetos podem responder a esse anseio usando recursos de Design Biofílico, com muitas janelas, portas de correr que se abrem para áreas externas, claraboias ou sistemas HVAC que ajudam a promover uma troca de ar saudável;
Iluminação natural: o acesso à luz natural é um fator enorme no bem-estar dos ocupantes dos edifícios. Porém, O excesso de luz pode resultar em brilho desconfortável, enquanto a falta dela pode resultar em espaços inadequadamente iluminados. Os dispositivos de proteção solar, a orientação e as relações janela/parede devem ser considerados no projeto do edifício, a fim de otimizar a luz do dia. Embora fornecer muitas janelas seja a solução mais simples para isso, nem sempre é possível. As alternativas para resolver o problema incluem a implementação de tubos solares ou átrios de vários andares, que permitem que a luz natural difusa penetre nos espaços interiores;
Acústica aprimorada: o ruído do sistema HVAC, outros equipamentos mecânicos, elevadores e moradores de edifícios podem ser gerenciados por meio de recursos de design, como painéis acústicos. As soluções biofílicas para problemas acústicos também incluem plantas internas estrategicamente posicionadas e fontes de água que ajudam a mascarar sons indesejados;
Paredes e telhados verdes: paredes e telhados verdes não apenas acrescentam oportunidades visuais para se conectar à natureza, mas também melhoram o meio ambiente. Uma fachada verde colocada sobre uma parede existente ou uma “parede viva” composta de plantas pode ajudar a reduzir o efeito da ilha de calor urbano. Em climas quentes, um telhado verde atua como um fator de resfriamento, assim, evitando a penetração da luz solar. Já em clima mais frio fornece maior isolamento resultando em menor demanda de aquecimento;
Espaço de descanso: o descanso é tão importante quanto o esforço para aumentar a produtividade. Um dos 14 Patternes of Biophilic Design (14 Padrões do Design Biofílico), o “abrigo”, fala justamente da criação de um espaço para descanso ou cura, que permita aos funcionários recuperarem as energias e voltarem renovados às suas estações de trabalho;
Materiais naturais e cores calmantes: materiais e acabamentos desempenham um papel importante na conexão de usuários de um espaço com a natureza. Quase todos os acabamentos têm a oportunidade de refletir a natureza, seja em cores de pintura natural, murais cênicos, material ou padrão de carpete, painéis de parede com imagens gravadas da natureza ou mesmo trabalhos em madeira natural.
O Minhocão de São Paulo: um projeto biofílico para melhorar o bem-estar
Como já falado anteriormente, o Design Biofílico está incorporando a natureza em nosso ambiente construído e projetando locais inspiradores e restauradores que conectam os seres humanos ao ambiente.
Nesse contexto, durante o Archtrends Summit de 2019, Gregory Bousquet, arquiteto francês sócio-fundador do escritório Triptyque, falou sobre a relação entre natureza e arquitetura. A mistura do verde e da madeira, inclusive, é presença constante nos projetos do seu escritório, como o edifício paulistano Amata, que utiliza madeira certificada como principal matéria-prima.
Recentemente, Gregory e o escritório assinaram o projeto de revitalização da Marquise do Minhocão em São Paulo, um dos locais mais poluídos da capital paulista.
Marquise do Minhocão pelo escritório Triptyque.
A proposta do Triptyque busca dar mais vida ao espaço, iluminando-o com a uma operação simples de abertura entre suas pistas para criar feixes de luz natural. O projeto prevê um jardim com plantas suspensas no teto ao longo de todo o comprimento do Minhocão. A ideia é que o jardim possa filtrar até 20% da emissão de CO2 produzida pelos carros.
Design Biofílico, portanto, é mais do que apenas a adição de um ou dois vasos de planta. A luz natural, a vegetação, as paredes vivas, as texturas naturais e as vistas de materiais e natureza proporcionarão um impacto positivo.
Área de lazer que integra a natureza ao ambiente, trazendo paz e tranquilidade.
Fonte: https://archtrends.com/