domingo, 31 de março de 2019

ABRAÇA-ME

Abraça-me. 
Quero ouvir o vento que vem da tua pele, 
e ver o sol nascer do intenso calor dos nossos corpos. 
Quando me perfumo assim, em ti, 
nada existe a não ser este relâmpago feliz, 
esta maçã azul que foi colhida na palidez de todos os caminhos, 
e que ambos mordemos para provar o sabor que tem a carne incandescente das estrelas. 

Abraça-me. 
Veste o meu corpo de ti, para que em ti eu possa buscar o sentido dos sentidos, 
o sentido da vida. 
Procura-me com os teus antigos braços de criança, 
para desamarrar em mim a eternidade, 
essa soma formidável de todos os momentos livres que a um e a outro pertenceram. 

Abraça-me. 
Quero morrer de ti em mim, espantado de amor. 
Dá-me a beber, antes, a água dos teus beijos, 
para que possa levá-la comigo e oferecê-la aos astros pequeninos. 

Só essa água fará reconhecer o mais profundo, o mais intenso amor do universo, 
e eu quero que delem fiquem a saber até as estrelas mais antigas e brilhantes. 

Abraça-me. 
Uma vez só. Uma vez mais. 
Uma vez que nem sei se tu existes.

(JOAQUIM PESSOA),