domingo, 9 de fevereiro de 2014

Crendices de um poema


Crendices e cobiças 
Dor de cabeça onde alfinetes
Espetam certeiros, intermitentes
Os pensares imploram olhares
Raivas ocultas, masturbação inglória
Deixa na retina o acre da história
Tal pilone ornamentado por estátuas mortiças
Na cera deslavada cai o ocre do desejo 
Atenção, antecede os cornos do veado
A juba do leão, o barro
De tão velho cheira a morte
Abutres intransigentes desfalecem
Os deuses por fim têm o altar almejado
As cortesãs esfaimadas ajoelham

Aos poetas resta olhar
Olhar numa conivência aparente
Batam palmas ao descrente 
Que o poeta benevolente 
Abre as portas de par em par.

(Antónia Ruivo)