Crendices e cobiças
Dor de cabeça onde alfinetes
Espetam certeiros, intermitentes
Os pensares imploram olhares
Raivas ocultas, masturbação inglória
Deixa na retina o acre da história
Tal pilone ornamentado por estátuas mortiças
Na cera deslavada cai o ocre do desejo
Atenção, antecede os cornos do veado
A juba do leão, o barro
De tão velho cheira a morte
Abutres intransigentes desfalecem
Os deuses por fim têm o altar almejado
As cortesãs esfaimadas ajoelham
Aos poetas resta olhar
Olhar numa conivência aparente
Batam palmas ao descrente
Que o poeta benevolente
Abre as portas de par em par.
(Antónia Ruivo)