quarta-feira, 2 de janeiro de 2019

Flores!

MANEIRA DE AMAR

O jardineiro conversava com as flores, e elas se habituaram ao diálogo. 
Passava manhãs contando coisas a uma cravina ou escutando o que lhe confiava um gerânio. O girassol não ia muito com sua cara, ou porque não fosse homem bonito, 
ou porque os girassóis são orgulhosos de natureza.
Em vão o jardineiro tentava captar-lhe as graças, pois o girassol chegava a voltar-se contra a luz para não ver o rosto que lhe sorria. Era uma situação bastante embaraçosa, que as outras flores não comentavam. Nunca, entretanto, o jardineiro deixou 
de regar o pé de girassol e de renovar-lhe a terra, na devida ocasião.
O dono do jardim achou que seu empregado perdia muito tempo parado 
diante dos canteiros, aparentemente não fazendo coisa alguma. 
E mandou-o embora, depois de assinar a carteira de trabalho.
Depois que o jardineiro saiu, 
as flores ficaram tristes e censuravam-se porque não tinham induzido o girassol 
a mudar de atitude. A mais triste de todas era o girassol, 
que não se conformava com a ausência do homem. 
"Você o tratava mal, agora está arrependido?" 
"Não, respondeu, estou triste porque agora não posso tratá-lo mal. 
É minha maneira de amar, ele sabia disso, e gostava".

(Carlos Drummond de Andrade)