Eu tive uma namorada que via errado. O que ela via não era uma garça na beira do rio.
O que ela via era um rio na beira de uma garça.
Ela despraticava as normas.
Dizia que seu avesso era mais visível do que um poste.
Com ela as coisas tinham que mudar de comportamento.
Aliás, a moça me contou uma vez que tinha encontros diários com suas contradições. Acho que essa freqüência nos desencontros ajudava o seu ver oblíquo.
Falou por acréscimo que ela não contemplava as paisagens.
Que eram as paisagens que a contemplavam.
Chegou de ir no oculista.
Não era um defeito físico falou o diagnóstico.
Induziu que poderia ser uma disfunção da alma.
Mas ela falou que a ciência não tem lógica.
Porque viver não tem lógica – como diria nossa Lispector.
Veja isto:
Rimbaud botou a beleza nos olhos e viu que a beleza é amarga.
Tem Lógica?
Também ela quis trocar por duas andorinhas os urubus que avoavam no Ocaso de seu avô. O Ocaso do seu avô tinha virado uma praga de urubu.
Ela queria trocar porque as andorinhas eram amoráveis e os urubus eram carniceiros.
Ela não tinha certeza se essa troca podia ser feita. O pai falou que verbalmente podia. Que era só despraticar as normas.
Achei certo.