Em cada página do livro "Contos de amor rasgados", *Marina Colasanti, uma surpresa agradável. Repasso aqui três curtas histórias que me propiciaram momentos de irônica diversão. Uma boa semana para todos.
Enfim, um indivíduo de idéias abertas
A coceira no ouvido atormentava. Pegou o molho de chaves, enfiou a mais fininha na cavidade. Coçou de leve o pavilhão, depois afundou no orifício encerado. E rodou, virou a pontinha da chave em beatitude, à procura daquele ponto exato em que cessaria a coceira.
Até que, traque! Ouviu o leve estalo, a chave enfim no seu encaixe, percebeu que a cabeça lentamente se abria.
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A paixão da sua vida
Amava a morte. Mas não era correspondido.
Tomou veneno. Atirou-se de pontes. Aspirou gás.
Sempre ela o rejeitava, recusando-lhe o abraço.
Quando finalmente desistiu da paixão entregando-se à vida,
a morte, enciumada, estourou-lhe o coração.
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Contos em letras garrafais
Todos os dias esvaziava uma garrafa, colocava dentro sua mensagem,
e a entregava ao mar.
Nunca recebeu resposta.
Mas tornou-se alcoólatra.