AMAR
(*Florbela Espanca)
Eu quero amar, amar perdidamente!
Amar só por amar: aqui... além...
Amar só por amar: aqui... além...
Mais este e aquele, o outro e a toda gente...
Amar! Amar! E não amar ninguém!
Recordar? Esquecer? Indiferente!...
Prender ou desprender? É mal? É bem?
Quem disse que se pode amar alguém
Durante a vida inteira é porque mente!
Há uma primavera em cada vida:
É preciso cantá-la assim florida,
Pois se Deus nos deu voz, foi para cantar.
E se um dia hei de ser pó, cinza e nada
Que seja a minha noite uma alvorada,
Que eu saiba me perder... para me encontrar...
Retrato de Florbela Espanca pintado por Carlos Bottelho (2008)
*Flor Bela de Alma da Conceição conhecida como Florbela Espanca (1894 — 1930), portuguesa, autora de contos, artigos, traduções, epístolas e um diário, antes de tudo foi poetisa. É a sua poesia, quase sempre em forma de soneto, que ela deve a fama e o reconhecimento público.
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