domingo, 24 de novembro de 2013

RUA CHILE - SALVADOR / BAHIA - BRASIL

Construída em 1549, por Tomé de Souza, primeiro governador-geral do Brasil, com o nome de Rua Direita dos Mercadores, a Rua Chile foi a principal rua de Salvador. A cidade ainda era cercada de muros, com fossos, e possuía duas entradas, a do sul - conhecida como Porta de Santa Luzia e a do norte - chamada de Porta de Santa Catarina. Existiam duas praças e seu aspecto era de um quadrilátero. A Rua Chile, com seus 400m de extensão, ganhou o nome definitivo através da Lei 577, de 16 de julho de 1902 - uma homenagem da Câmara Municipal à visita da esquadra da Marinha de Guerra do Chile que havia desfilado na cidade e, na época, era a terceira maior do mundo.

Tendo sua iluminação elétrica inaugurada em 1903, com grande festa, a Rua Chile se transformou em palco da própria evolução de Salvador. Todo o poder da cidade estava concentrado nela: o Palácio dos Governadores, a Câmara Municipal e a Prefeitura. Politicamente, a rua era o centro das decisões, além de ser o eixo que ligava a Praça Castro Alves ao Centro Administrativo da Cidade.

Empresas jornalísticas tinham sua sede no local, advogados, médicos, todos os grandes profissionais possuíam escritórios e consultórios em suas ruas estreitas. A rua Chile representava para Salvador o que Rua do Ouvidor representava para o Rio de Janeiro ou a 15 de novembro para São Paulo. Todo final de tarde os bondes paravam na Praça da Sé, trazendo rapazes e moças para "badalar". Seus hotéis de luxo como o Palace - que possuía um salão onde jovens passavam as tardes -, o Meridional, o Chile e o Cintra recebiam turistas de todas as partes do mundo. Grandes cacauicultores freqüentavam seus bares e o Teatro São João, onde se apresentavam companhias de teatro, principalmente, da França e Itália. Nas décadas de 40 e 50, apogeu da Rua Chile, os cines Glória e Guarany trouxeram os maiores sucessos de Hollywood.

Em 100 anos a Rua Chile viu nascer vários personagens que se eternizaram na memória popular, como Florinda, a mulher do roxo. Conta a lenda que ela teria perdido sua fortuna e enlouquecido. Ao certo, sabe-se que por mais de 30 anos, ela desfilou o seu traje de veludo roxo e grosso em pleno sol de Salvador, pedindo esmolas na área. As sapatarias Clark e Buffoni, a Chapelaria Mercuri, a Livraria Magalhães, as magazines Duas Américas, com suas escadas rolantes modernas, e Slooper, as lojas A Pérola e A Moda eram alguns dos lugares mais visitados por gerações de moradores de Salvador. A sorveteria A Cubana, a pastelaria Pepe e Irmãos. A tradicional loja de roupas masculinas, o Adamastor, vendia as roupas que os homens elegantes usavam. E teve, como seu primeiro dono, o pai do cineasta Glauber Rocha, cujo nome é o mesmo da propriedade. A família Lopes Pontes, de Irmã Dulce, viveu ali.

Com a mudança, na década de 70, do Centro Administrativo para a Av. Paralela, a construção de Shopping Centers e o crescimento desordenado da cidade, a Rua Chile começou a entrar em declínio, sendo tombada pela Unesco como Patrimônio da Humanidade.