domingo, 17 de janeiro de 2016

Da musa Clarice Lispector!

Estou sentindo uma clareza tão grande que me anula como pessoa atual e comum:
é uma lucidez vazia, como explicar?
Assim como um cálculo matemático perfeito do qual, no entanto, não se precise. Estou por assim dizer vendo claramente o vazio.
E nem entendo aquilo que entendo:
pois estou infinitamente maior que eu mesma, e não me alcanço.
Além do que: que faço dessa lucidez?
Sei também que esta minha lucidez pode-se tornar o inferno humano
- já me aconteceu antes.
Pois sei que -
em termos de nossa diária e permanente acomodação resignada à irrealidade -
essa clareza de realidade é um risco.
Apagai, pois, minha flama, Deus, porque ela não me serve para viver os dias.
Ajudai-me a de novo consistir dos modos possíveis.
Eu consisto, eu consisto, amém.