quinta-feira, 12 de novembro de 2020

ALDRAVAS PELA ITÁLIA


A Itália, para mim, é uma festa para os sentidos, para todos os sentidos. 
Um dos elementos que estão pelas ruas e que muito me encantam são as Aldravas, aqueles simpáticos batedores de portas, tão característicos em cidades italianas e espanholas. Em abril, parando de cidade em cidade, andando por tantas ruas, eles saltavam aos olhos.
Muito mais que a beleza de muitos deles, gosto dos aspectos históricos, muitas vezes religiosos, que possuem. Há todo um lado social envolvido no uso de tais elementos e que muitas vezes nos parecem apenas decorativos. Do ponto-de-vista prático, são peças móveis em metal, bronze ou ferro fundido, com origem na Idade Média, com formas diversas e que fazem as vezes de campainhas. 

Colle di Val D'Elsa

Agora, batendo pernas pelas cidades italianas, a lente de minha câmera foi subitamente atraída pelos batedores de portas - mesmo sem saber se eles chegariam aqui, os fotografei pelo prazer da comparação, de verificar neles a presença de elementos religiosos, mitológicos quem sabe ou, apenas, sociais e práticos. O mesmo já havia acontecido na Espanha. Sim, tudo pode se tratar apenas de uso decorativo, corrente, não é mesmo? Confesso que prefiro acreditar que possuam sentidos mais profundos, pois só assim aguçam minha curiosidade. 


Siena

Se sairmos pelo Mundo, veremos que possuem sentidos diferentes, de acordo com a origem da população, de sua religião ou de como o costume foi inserido na comunidade - nas colônias, por exemplo, o sentido é muito mais prático, mas ainda assim, às vezes, podemos nos surpreender. Os portugueses utilizavam bem mais batedores com motivos ligados ao mar - peixes, sereias e âncoras são ainda hoje encontrados e fogem do sentido religioso, estão muito mais ligados a atividade laboral e ao instinto explorador que moveu aquele povo. E, por termos sido colonizados por eles, é comum encontrarmos em centros históricos de cidades do Nordeste as aldravas ligadas a elementos da pesca. No Marrocos, por sua vez, possuem um sentido social-religioso - ainda são mantidos em casas tradicionais dois batedores com sons distintos por porta (normalmente um em forma de pingente e o outro de argola), de modo que a esposa saiba se quem bate à porta é homem ou mulher (se for mulher poderá abri-la, caso contrário, não). Já em terras espanholas e italianas, eles ganham mais um sentido religioso ou de ascensão social, embora muitos dos elementos usados ainda estejam muito ligados a cultura muçulmana e de povos bárbaros - usados para espantar maus-espíritos e mau-olhado.


Sereia (reza a lenda que habitariam a costa italiana, junto a Ilha de Capri), peixes e ser mitológico: Lucca. 
Pelas ruas italianas encontramos uma grande variedade deles, a maioria com desenhos bastante clássicos, algumas vezes somados a botões e rosetas, que eram responsáveis por determinar o status social dos moradores da residência. 


Veneza.


Firenze.


Firenze. 


Firenze
As aldravas mais comuns são em forma de argolas, simples, algumas com pequenos detalhes que lhes dão alguma distinção - o detalhe também pode estar no suporte, alguns em forma de animais ou ramos. 


Flor de Lótus - Firenze: prosperidade, sabedoria e paz. 


San Gimignano


Pienza


Ramos: simboliza a entrada de Jesus em Jerusalém, é o símbolo da peregrinação dos fiéis. 

Saindo do nicho de argolas, chegamos aos Leões, os mais interessantes e cheios de simbolismos. O leão é um símbolo solar e que foi muito usado pela realeza como símbolo de força e riqueza - é muito comum encontrarmos esculturas de leões ornando a entrada de palácios e castelos. São considerados os guardiões das portas, por excelência e, normalmente, utilizados para causar medo ou estimular o respeito. 


Pisa


Firenze


Siena
Há um misto muito frequente da figura de seres mitológicos que se confundem com leões ou homens.


Peixes + figuras mitológicas: Roma.


Encontramos em diversas cidades, esse em especifico em Assis. 

Figura mitológica: Roma 

Na Itália, entretanto, podemos divagar sobre os aspectos mais religiosos, do ponto-de-vista católico. O Leão representa uma metáfora do Divino e seria, então, um símbolo de proteção: seu rugido, assim como a palavra de Deus, protegeria a família crente e, por consequência, sua casa. 


Figura mitológica + anjos ao centro + leão: Siena.

Roma

Qualquer que sejam os sentidos que fizeram com que ganhassem imagens e contornos diversos pelo Mundo, hoje servem para avisar aos moradores da chegada de visitas, já que os sons desses contra as fortes portas de madeira ecoam pelo interior das residências. O charme, talvez, esteja apenas em tê-los como elementos decorativos ou, de forma singela, para afastar o mau-olhado:


Figa.

Fonte: http://www.mochilinhagaucha.com.br/