domingo, 29 de dezembro de 2013

PLENITUDE - LYA LUFT

Não tenho mais os olhos de menina nem corpo adolescente, 
e a pele translúcida há muito se manchou.
Há rugas onde havia sedas, 
sou uma estrutura agrandada pelos anos e 
o peso dos fardos bons ou ruins.
(Carreguei muitos com gosto e alguns com rebeldia.)

O que te posso dar é mais que tudo
o que perdi: dou-te os meus ganhos.
A maturidade que consegue rir quando em outros tempos choraria,
busca te agrada quando antigamente quereria apenas ser amada. 

Posso dar-te muito mais do que beleza e juventude agora: 
esses dourados anos me ensinaram a amar melhor, 
com mais paciência e não menos ardor, a entender-te se precisas, 
a aguardar-te quando vais, a dar-te regaço de amante e colo de amiga, e sobretudo força  — que vem do aprendizado.

Isso posso te dar: um mar antigo e confiável cujas marés 
— mesmo se fogem — 
retornam, cujas correntes ocultas não levam destroços
mas o sonho interminável das sereias.
(Texto extraído do livro "Secreta Mirada")