Vivo cercada por lembranças, por paixões que eu poderia, com alguma sabedoria, não ter vivido. Mas que se tornaram grandiosas e dilacerantes única e exclusivamente porque o tédio em não ter um foco amoroso me soa ainda mais tolo do que inventar amor.
Ah, se eu tivesse dito não para aquele mineiro safado ou para aquele playboyzinho de Higienópolis.
Não para aquele falso sensível comedor de modeletes drogadas.
Não para aquele carioca sempre me pedindo R$ 4 pra inteirar a grana do cigarro.
Não para o rapaz casado, que tinha dó da esposa.
Não para o brocha que só ficava nervoso porque “era a nossa primeira vez”… primeira vez que durou dois anos.
Agora mesmo neste café metido a francês de São Paulo um deles se sentou na minha frente e me provocou:
– Você adorava transar comigo.
– É, eu adorava. Mas isso foi até eu transar com outro. Você não tinha a menor noção do que é um sexo oral.
Ao lado dele, surge outro rapaz inesquecível de meu passado. Demoro um tempo pra recordar seu nome, pois assim que ele deixou de ser inesquecível eu o esqueci.
– Você adorava conversar comigo.
– Eu adorava. Mas isso foi até eu conversar com outro. Nunca foi troca de almas o que tivemos, apenas de fluidos. E fluidos sem alma é pior do que ir sozinho e cedo pra cama, numa sexta-feira quente.
Só então reparei que todos eles estavam no café. Todos tão especiais e tão descartáveis. Eu era o centro daquele universo tão errado chamado “meus amores”. Quer dizer, eu achava que era, porque na verdade eles desencanaram de minha existência e se tornaram, todos, melhores amigos. Riam, brindavam e se amavam. Todos eram o mesmo que não é nenhum. Chamei o garçom pra pedir a conta e fugir dali o mais rápido possível. Mas o garçom era gatinho. Vai começar tudo de novo.
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