“Gostaria de perder a razão com uma única condição:
ter a certeza de me tornar um louco alegre e jovial,
sem problemas nem obsessões, folgazão de manhã à noite.
Se bem que deseje ardentemente êxtases luminosos, não os quereria no entanto,
pois são sempre seguidos de depressões.
Quereria, em contrapartida,
que um banho de luz de mim brotasse para transfigurar o universo – um banho que,
longe da tensão do êxtase, conservaria a calma de uma eternidade luminosa.
Teria a ligeireza da graça e o calor de um sorriso.
Quereria que o mundo inteiro flutuasse neste sonho de claridade,
neste encanto de transparência e imaterialidade.
Que não haja mais obstáculo nem matéria, forma ou confins.
E que, neste paraíso, eu morra de luz”.
Emile Cioran (1911-1985)