domingo, 21 de julho de 2019

Progressistas do passado!

Fala-se tanto em inclusão, diversidade, representatividade, mas só pode ser gente que ainda não era nascida nos anos 60 e tem a impressão que o planeta sempre foi reacionário, quadrado e careta.

O Gordo e o Magro viviam juntos. Dormiam na mesma cama, inclusive. E era a coisa mais normal do mundo. Isso nos anos 40.

Acha pouco?

Moe, Joe e Larry não eram tão patetas quanto se imagina: também coabitavam e dividiam o leito, num esquema de poliafetividade que não escandalizava ninguém.

Como essa gente lacradora de hoje acha que Tony Curtis, um dos maiores galãs do seu tempo, conquistou Marilyn Monroe, a mulher mais cobiçada do cinema? Não foi exibindo os bíceps ou agarrando pelo cabelo, como fazem os machos opressores de hoje no Carnaval, mas usando vestido, peruca e maquiagem pesada. Jack Lemmon, heterossexual convicto, acaba encontrando o homem da sua vida, Joe Brown, também vestido de dregue quando as dregues nem sonhavam em ser queens.

O que dizer dos inseparáveis Zorro & Tonto e Mandrake & Lothar, que, ainda por cima, eram relacionamentos inter-raciais?

E Xena e Gabrielle?

Maga Patalójika e Madame Min?

Matracatrica e Fofoquinha?

Tom & Doug, que tinham não só um passado mas também um futuro, e viviam juntos para lá e para cá, no Túnel do Tempo?

Fred e Barney, com seus casamentos de fachada?

Recruta Zero e seu fetiche bondage com o Sargento Tainha?

E as novas configurações familiares dos personagens Disney, com sobrinhos invariavelmente criados pelos tios solteirões?

Emília, no Sítio do Pica Pau Amarelo, fazia de gato e sapato o Visconde de Sabugosa ("milhonário" macho, nobre, espigado). E ainda se casou com um porco, o Marquês de Rabicó – num tipo de relacionamento que nem o ministro Barroso aprovaria.

Nós, da década de 60 (eu nasci em 59, mas com sensação térmica de 1960) aplaudimos Simonal, Tony Tornado, Jair Rodrigues, Golden Boys, Trio Esperança, Elza Soares, Agostinho dos Santos, Evaldo Braga, Lady Zu, Miriam Makeba, Donna Summer, Tina Turner, Ray Charles, Bob Marley, Stevie Wonder, Jimi Hendrix, Michael Jackson (ele ainda era preto na ocasião) porque sabíamos que black is beautiful e que “no matter, no matter your color, you are still my brother”. E sem precisar ser chamados de palmito, de brancos opressores sem lugar de fala (ou, no caso, de escuta).

Um dos maiores mitos da nossa era foi o Dr. Smith, a quem é impossível descrever de modo politicamente correto. Ele fez mais pelo movimento LGBTQ+ da época (que ainda não existia) do que qualquer parada gay. Era uma péssima influência para o pequeno Will Robinson (mau caráter no último!), e nem por isso o garoto desgrudava dele (com a anuência dos pais, John e Maureen Robinson, que ou eram muito ingênuos ou eram simpatizantes da causa e adeptos da ideologia de gênero).

Dr. Smith ainda por cima mantinha um relacionamento abusivo com uma criatura cibernética e não binária, o Robô. A quem, durante as frequentes D.R.s, chamava de “lata de sardinha enferrujada”. E não há evidências de que o pequeno Will ou a ingênua Penny Robinson tenham virado genderfluid ou se tornado de Humanas por causa disso.

Jeannie vivia com o Major Nélson sem serem formalmente casados – isso num tempo em que mulher amigada era vista como uma sirigaita, não como descolada.

A empoderada Agente 99 era muito mais esperta que o abilolado Agente 86. A tripulação do Star Trek era mais multiétnica que os anúncios da Benetton e da Natura ou aquela propaganda censurada do Banco do Brasil.

Sem contar que, bem antes das Marchas da Maconha, já lidávamos de boa com o uso de alucinógenos, como o pó de pirlimpimpim.

Do Zé Colmeia & Catatau e do Batman e Robin eu nem vou falar, porque ainda não consegui encontrar um jeito de aportuguesar “sugar daddy”.

Os fascistas e as tias do zap eram muito mais progressistas do que vocês imaginam.


(Eduardo Affonso)