domingo, 26 de abril de 2015

O MUNDO NÃO É MATERNAL - Martha Medeiros

É bom ter mãe quando se é criança, e também é bom quando se é adulto. Quando se é adolescente pensa que viveria melhor sem ela, mas é erro de cálculo. Mãe é bom em qualquer idade. Sem ela, ficamos órfãos de tudo,
já que o mundo lá fora não é nem um pouco maternal conosco.
 
O mundo não se importa de estamos desagasalhados e passando fome. Não liga se viramos a noite na rua, não dá a mínima se estamos acompanhados por maus elementos. O mundo quer defender o seu, não o nosso.
O mundo quer que a gente fique horas no telefone, torrando dinheiro.
Quer que a gente case logo e compre um apartamento que vai nos deixar endividados por 20 anos.
O mundo quer que a gente ande na moda, que a gente troque de carro,
que a gente tenha boa aparência, e estoure o cartão de crédito.
Mãe também quer que a gente tenha boa aparência, mas esta mais preocupada com nosso banho, com os nossos dentes e nossos ouvidos, com a nossa limpeza interna: não quer que a gente se drogue, que a gente fume, que a gente beba.
O mundo nos olha superficialmente. Não consegue enxergar através. Não detecta nossa tristeza, nosso queixo que treme, nosso abatimento. O mundo quer que sejamos lindos, sarados e vitoriosos, para enfeitar ele próprio, como se fôssemos objetos de decoração do planeta. O mundo não tira nossa febre, não penteia nosso cabelo, não oferece um pedaço de bolo feito em casa.

O mundo quer nosso voto mas não quer atender nossas necessidades. O mundo, quando não concorda com a gente, nos pune, nos rotula nos exclui. O mundo não tem doçura, não tem paciência, não para para nos ouvir.
O mundo pergunta quantos eletrodomésticos você tem em casa e qual é o grau de instrução, mas não sabe nada dos nossos medos de infância,
das nossas notas do colégio, de como foi duro arranjar o primeiro emprego.
Para o mundo, quem menos corre, voa. Quem não se comunica se trumbica. Quem com ferro fere, com ferro será ferido. O mundo não quer saber de indivíduos, e sim de slogans e estatísticas...
 
Mãe é de outro mundo. É emocionalmente incorreta: exclusivista, parcial, metida brigona, insistente, dramática, chega a ser até corruptível se oferecendo em troca de alguma atenção.
Mãe sofre no lugar da gente, se preocupa com detalhes e tenta adivinhar todas as nossas vontades, enquanto que o mundo propriamente dito exige eficiência máxima, seleciona os mais bem dotados e cobra caro pelo seu tempo.

Mãe é de graça!!

Foto de Giu De Cesare.