No princípio tinhamos vilas, cidades, aglomerações urbanas. Todas essas formas incluíam um centro. O centro da cidade era o local de referência da vida social dos moradores. Neles se localizavam as igrejas, as instituições públicas e os estabelecimentos comerciais. Ali ocorriam as festas públicas e as manifestações políticas.
Hoje os tempos são outros. Em quase todo o mundo os centros de muitas cidades começaram a perder importância. Inicialmente nos Estados Unidos e depois pelo resto do planeta.
Uma das principais razões do esvaziamento das áreas centrais foi a criação dos shoppings centers ou malls como os americanos chamam. Os espaços públicos centrais - com todo os seus significados simbólicos, políticos, sociais e também com seus conflitos e problemas - começaram a se tornar obsoletos. Foram substituídos por espaços seguros, limpos, bem organizados e agrupados em centros comerciais. Neles, o espaço é rigidamente controlado.
Inicialmente, os malls se caracterizavam como grandes edifícios comerciais fechados e artificialmente climatizados. No Brasil essa característica ainda é dominante. Na América, a partir da década de 90, começa a surgir um outro conceito. São os chamados lifestyle ou boutique centers.
Atualmente, a maioria dos novos centros comerciais lançados nos Estados Unidos, adotam esse formato. Esse modelo está rapidamente se expandindo para outros locais. No lugar de áreas confinadas e climatizadas, temos agora espaços abertos para o céu, com ruas, calçadas, praças e fontes. Há situações em que é permitida a circulação de carros, bem como estacionamento junto às calçadas.
Algumas experiências chegam a incluir edifícios educacionais, bibliotecas públicas e outras instituições. Sua arquitetura em geral é nostálgica e, em alguns casos, replica trechos de antigas áreas urbanas de cidades européias. Um empreendedor chega candidamente a afirmar que "estamos fazendo nada mais nada menos que cópias dos (antigos) centros de cidades".
Eles são em tudo assemelhados às áreas públicas dos antigos centros urbanos. Mas com uma sutil diferença. A semelhança é superficial. São espaços privados, tão rigidamente controlados como os dos shoppings centers tradicionais.
Com os centros lifestyle a dinâmica capitalista fecha um círculo. Os antigos centros foram destruídos ou esvaziados. Na etapa atual esses centros são reapresentados sob um novo figurino.
Para alguns críticos, a questão apresenta outras implicações. Segundo eles, há um processo em curso que constitui um dos principais elementos da dinâmica do capitalismo contemporâneo. Para alguns desses críticos, há uma tendência de "mallification" das cidades. Hoje, em algumas cidades, se usa a expressão "vamos ao centro" como sinônimo de "vamos às compras".
As antigas main streets decadentes de muitas cidades dos Estados Unidos foram objetos de programas municipais de revitalização. As experiências que deram certo tem um perfil comercial parecido com o do shopping. São ruas onde sempre se encontram grifes como Kenzo, Louis Vuitton, Prada, Dior, Hermés, etc.
Em resumo, os shoppings imitam os centros urbanos públicos. Esses, por sua vez, também passaram a imitar os shoppings. O centro urbano como um espaço público, local do exercício da cidadania, tende a ser cada vez mais uma lembrança fugidia de tempos passados.
Nota: Sobre o tema, ver Roberto Misik: Simulated cities, Sedate living. In http://www.eurozine.com/articles/2006-12-15-misik-en.html
Hoje os tempos são outros. Em quase todo o mundo os centros de muitas cidades começaram a perder importância. Inicialmente nos Estados Unidos e depois pelo resto do planeta.
Uma das principais razões do esvaziamento das áreas centrais foi a criação dos shoppings centers ou malls como os americanos chamam. Os espaços públicos centrais - com todo os seus significados simbólicos, políticos, sociais e também com seus conflitos e problemas - começaram a se tornar obsoletos. Foram substituídos por espaços seguros, limpos, bem organizados e agrupados em centros comerciais. Neles, o espaço é rigidamente controlado.
Inicialmente, os malls se caracterizavam como grandes edifícios comerciais fechados e artificialmente climatizados. No Brasil essa característica ainda é dominante. Na América, a partir da década de 90, começa a surgir um outro conceito. São os chamados lifestyle ou boutique centers.
Atualmente, a maioria dos novos centros comerciais lançados nos Estados Unidos, adotam esse formato. Esse modelo está rapidamente se expandindo para outros locais. No lugar de áreas confinadas e climatizadas, temos agora espaços abertos para o céu, com ruas, calçadas, praças e fontes. Há situações em que é permitida a circulação de carros, bem como estacionamento junto às calçadas.
Algumas experiências chegam a incluir edifícios educacionais, bibliotecas públicas e outras instituições. Sua arquitetura em geral é nostálgica e, em alguns casos, replica trechos de antigas áreas urbanas de cidades européias. Um empreendedor chega candidamente a afirmar que "estamos fazendo nada mais nada menos que cópias dos (antigos) centros de cidades".
Eles são em tudo assemelhados às áreas públicas dos antigos centros urbanos. Mas com uma sutil diferença. A semelhança é superficial. São espaços privados, tão rigidamente controlados como os dos shoppings centers tradicionais.
Com os centros lifestyle a dinâmica capitalista fecha um círculo. Os antigos centros foram destruídos ou esvaziados. Na etapa atual esses centros são reapresentados sob um novo figurino.
Para alguns críticos, a questão apresenta outras implicações. Segundo eles, há um processo em curso que constitui um dos principais elementos da dinâmica do capitalismo contemporâneo. Para alguns desses críticos, há uma tendência de "mallification" das cidades. Hoje, em algumas cidades, se usa a expressão "vamos ao centro" como sinônimo de "vamos às compras".
As antigas main streets decadentes de muitas cidades dos Estados Unidos foram objetos de programas municipais de revitalização. As experiências que deram certo tem um perfil comercial parecido com o do shopping. São ruas onde sempre se encontram grifes como Kenzo, Louis Vuitton, Prada, Dior, Hermés, etc.
Em resumo, os shoppings imitam os centros urbanos públicos. Esses, por sua vez, também passaram a imitar os shoppings. O centro urbano como um espaço público, local do exercício da cidadania, tende a ser cada vez mais uma lembrança fugidia de tempos passados.
Nota: Sobre o tema, ver Roberto Misik: Simulated cities, Sedate living. In http://www.eurozine.com/articles/2006-12-15-misik-en.html