domingo, 11 de novembro de 2012

PARAFRASEANDO TEXTO DE FECUNDO CABRAL

“E me chamas estrangeira, porque cheguei aqui por um caminho que não conhecias, porque nasci em outra cidade, e conheci outros mares.
Chamas-me estrangeira porque não estás acostumado comigo, já que eu zarpei de um porto distante, e tu pensas que as despedidas existem apenas para que se agitem lenços e
se encham de lágrimas os olhos, e acreditas que, quando se vai para longe, todos pensam apenas no dia do regresso, e nas orações que os entes queridos ficam repetindo,
dia após dia, anos a fio.
Mas eu não sou estrangeira.
Porque despertei em minha alma o que antes não conhecia, e descobri que todos os homens são iguais, que houve uma época em que o mundo não tinha fronteiras.
Todos nós trazemos o mesmo grito, as mesmas perguntas,
o mesmo cansaço das viagens muito longas.
Os que dividem, os que dominam, os que roubam, os que mentem,
os que compram e vendem nossos sonhos,
são eles que inventaram esta palavra: Estrangeira.
Olha-me no fundo de meus olhos, além do teu ódio, do teu egoísmo, do teu medo,
e verás que sou apenas uma mulher, que precisa de tua ajuda.
Não posso ser, nunca fui uma Estrangeira”.
 
(FOTO: PALOMA AIMÉE FERREIRA)