Tolerância é a capacidade de aceitar o diferente. Não confundir com o divergente.
Intolerância é não suportar a pluralidade de opiniões e posições, crenças e idéias, como se a verdade fizesse morada em mim e todos devessem buscar a luz sob o meu teto.
Só os intolerantes se julgam donos da verdade. Todo intolerante é um inseguro. Por isso, aferra-se aos seus caprichos como um náufrago à tábua que o mantém à tona. Ele não é capaz de ver o outro como outro. A seus olhos, o outro é um concorrente, um inimigo ou, como diz um personagem de Sartre, "o inferno". Ou um potencial discípulo que deve acatar dócilmente suas opiniões.
Conta a parábola que um pregador reuniu milhares de chineses para pregar-lhes a verdade. Ao final do sermão, em vez de aplausos houve um grande silêncio. Até que uma voz se levantou ao fundo:
"O que o senhor disse não é a verdade".
O pregador indignou-se:
"Como não é verdade? Eu anunciei o que foi revelado pelos céus!"
O objetante retrucou:
"Existem três verdades. A do senhor, a minha e a verdade verdadeira. Nós dois, juntos, devemos buscar a verdade verdadeira".
"O que o senhor disse não é a verdade".
O pregador indignou-se:
"Como não é verdade? Eu anunciei o que foi revelado pelos céus!"
O objetante retrucou:
"Existem três verdades. A do senhor, a minha e a verdade verdadeira. Nós dois, juntos, devemos buscar a verdade verdadeira".
Só os intolerantes se julgam donos da verdade. Todo intolerante é um inseguro. Por isso, aferra-se aos seus caprichos como um náufrago à tábua que o mantém à tona. Ele não é capaz de ver o outro como outro. A seus olhos, o outro é um concorrente, um inimigo ou, como diz um personagem de Sartre, "o inferno". Ou um potencial discípulo que deve acatar dócilmente suas opiniões.
O tolerante evita colonizar a consciência alheia. Admite que, da verdade, ele apreende apenas alguns fragmentos, e que ela só pode ser alcançada por esforço comunitário. Reconhece no outro a alteridade radical, singular, que jamais deve ser negada.
Ser tolerante não significa ser bobo. Tolerância não é sinônimo de tolice.
O tolerante não desata tempestade em copo d’água, não troca o atacado pelo varejo, não gasta saliva com quem não vale um cuspe.
Ele jamais cede quando se trata de defender a justiça, a dignidade e a honra, bem como o direito de cada um ter seus princípios e agir conforme sua consciência, desde que isso não resulte em opressão ou exclusão, humilhação ou morte.
Das intolerâncias, a mais repugnante é a religiosa, pois divide o que Deus uniu.
Quem somos nós para, em nome de Deus, decretar se esses são os eleitos e, aqueles, os condenados?
Quem somos nós para, em nome de Deus, decretar se esses são os eleitos e, aqueles, os condenados?
Só o amor torna um coração verdadeiramente tolerante. Porque quem ama não contabiliza ações e reações do ser amado e faz da sua vida, um gesto de doação.
Carlos Alberto Libânio Christo (Frei Betto) - Escritor e religioso dominicano mineiro (1944).