Aquele Que Passa
*Ada Negri
O desconhecido que passa
e te acha ainda digna de uma fugidia palavra de desejo,
Talvez porque na sombra da noite tão doce de Maio
Ainda resplendem teus olhos,
ainda tem vinte anos a ligeira figura deslizante,
Não sabe que foste amada, por aquele que amaste amada,
em plena e soberba delícia de amor,
E em ti não há membro nem ponta de carne ou átomo de alma
que não tenha uma marca de amor.
Que tu viveste apenas para amar aquele que te amava,
E nem que quisesses
podias arrancar de ti essa veste que o amor teceu.
Ele, ignaro,
em ti já não bela, em ti já não jovem,
saúda a graça do deus:
Respira, passando,
em ti já não bela, em ti já não jovem,
o aroma precioso do deus:
Só porque o levas contigo,
doce relíquia à sombra de um sacrário.
*Ada Negri (1870 - 1940) - Nasceu em Lodi (província de Milão), Itália. Formou-se professora primária e em Letras. Poeta e escritora, primeira mulher membro da Academia Italiana de Letras. Escreveu vários livros de poesia e um único romance "Stella Mattutina" (Estrela da Manhã),
Pesquisa feita na internet.